Etiqueta e costumes japoneses: ter ou não no treino?

Zarei, cumprimento sentado no início e fim da aula

Pouco tempo atrás assisti um vídeo onde um famoso karateka britânico comentou sobre os costumes japoneses que ele abandonou na academia dele.

Neste vídeo, ele diz que coisas como alinhar em ordem de faixa, cumprimentar fazendo o Ojigi (cumprimentar em arco) ou mesmo ser chamado de sensei são coisas que não faz mais. A desculpa para isto é porque ele é britânico, não japonês.

Não posso deixar de falar que ele começa e termina o vídeo dizendo que “ei, se você gosta de fazer isto vá em frente, EU não faço mais…”. Com essa liberdade por ele dada, vamos para o que EU acho e faço aqui no nosso dojo.

Aqui na AKIRS

Bom, primeiramente acredito que sim, tem gente querendo ser mais japonês que os próprios japoneses. Principalmente gente que nunca foi para o Japão e ainda está preso em coisas românticas ou que foram trazidas para cá muito tempo atrás. Como forma de se promoverem, exageram na dose. Eu treinei lá e tem coisas que aqui o pessoal fantasia demais.

Mas não ter nada ou bem pouco da cultura que envolve o karate-do acho muito ruim. Para mim, uma das coisas que mais diferencia as artes marciais orientais das lutas originais do ocidente é justamente o conceito de DO, o Caminho. Claro, este é um conceito mais moderno na cultura japonesa, onde as artes passaram de jutsu para Do. Mas foi esse karate que aprendi e que se espalhou, portanto…

A forma de se cumprimentar, a ordem hierárquica, os conceitos de aluno/professor, a etiqueta, tudo isto faz parte da cultura que envolve o karate-do. Isso que transforma ele em mais do que socos e chutes e ensina algo a mais para quem está no dojo. Aliás, para mim não faz sentido tirar isto e continuar chamando de dojo (lugar do Caminho)! Ou usar então os termos japoneses, roupas, etc.

Aqui no nosso dojo, nós nos inspiramos em locais tradicionais de Okinawa. Os quadros na parede, chão imitando madeira, armas de kobudo expostas, até um jardim, tudo para criar uma atmosfera mais especial. O motivo? Para que as pessoas vejam e sintam a diferença, que elas estão em algo que quebra a rotina deles e inspira a aprender algo novo.

Nosso dojo, inspirado na Kyudokan de Okinawa.

E veja bem, estamos em uma cidade de imigração alemã. Eu mesmo tenho cara e sobrenome alemão. Mas nem por isso eu vou tirar as coisas culturais de uma arte por conflitar onde moro. Aliás, esta diferença e a possibilidade de fazer algo de outra cultura serve até de marketing!

Distorcer a arte é algo que para mim é ruim. Por exemplo, eu gosto muito do Kendo – a arte da esgrima japonesa. Mas não sou muito fã de toda a etiqueta e simbolismo que tem lá – muito mais que no karate-do. Claro, como faz parte eu e gosto do treino, obedeço. Porém, gosto muito da luta com espadas. O que fiz? Passei a estudar também esgrima medieval e fundei a Prudentia Esgrima, algo que está mais próximo das minhas raízes e cultura…

Eu cravando a espada no treino com a Rapieira, uma das armas da esgrima histórica italiana!

Claro, cada um sabe o seu caminho. Apenas acredito que o treino de Karate-do, Judo, Kendo ou outras artes marciais orientais podem trazer mais do que apenas a técnica e, por isso, é importante manter esses aspectos.

Existe toda uma cultura, diferente da nossa ocidental, que vem junto. E esta diferença só vai fazer crescer nosso conhecimento, como praticante e como ser humano.

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